BIOGRAFIA



[O MILITAR

Para além da sua inegável qualidade de pioneiro, Pinheiro Corrêa foi essencialmente um cavaleiro andante da Causa do Ar, desde os alvores da Aviação Militar até por doença lhe faltarem forças para terçar lanças em sua defesa e propaganda.

Longa e laboriosa obra produziu, creditando-se para além da sua vida profissional exemplar, um organizador de invulgar dinamismo, um dirigente activo e de boa visão, além de escritor da especialidade, conhecedor, probo e talentoso.

Nasceu José Pedro Pinheiro Corrêa, de seu nome completo, em Leiria, freguesia da Sé, no dia 9 de Junho de 1892. Contava 81 anos à data da sua morte, que foi muito sentida por todos os aviadores da «velha guarda», para quem a camaradagem não é uma palavra vã, desde que entraram na grei.

Assentou praça como voluntário, com 19 anos no Regimento de Infantaria 7, da bela cidade do Lis, para mais tarde, em 1915, ingressar na Escola de Guerra - como então se chamava à actual Academia Militar - onde tirou o Curso da Arma de Infantaria.

Promovido a Alferes em 1916, logo se sentiu atraído pela aviação, que estava precisamente a ser criada em Portugal, e concorreu assim ao primeiro curso que se realizou na Escola de Aeronáutica Militar, o chamado Curso Histórico de Vila Nova da Rainha, onde ficou apresentado desde 15 de Outubro do ano em referência.

Era Director da Instrução de Pilotagem o comandante Sacadura Cabral, pessoa por quem Pinheiro Corrêa teve sempre a maior estima e admiração.

Em 1917, não tendo concluído o seu Curso de Pilotagem, ofereceu-se para prestar serviço em Moçambique, onde a Alemanha nos tinha declarado Guerra, seguindo para essa província a 2 de Julho.

Integrado na Esquadrilha Expedicionária a Moçambique, considerado observador aéreo, chegou a Mocimboa da Praia, base aérea de operações, no dia 4 de Agosto desse ano.

Por razões de ordem vária a esquadrilha da Aviação nunca chegou a entrar em operações no Niassa e os seus componentes ofereceram-se para prestarem serviço nas suas armas. Desta forma o Alferes Pinheiro Corrêa ficou integrado na 9ª Companhia Indígena; mas com elementos metropolitanos correccionais, conhecida e celebrada pela «Coluna dos Irregulares», comandada pela grande figura de guerreiro antigo, que se chamou Neutal de Abreu.

Em Dezembro de 1919, Pinheiro Corrêa regressa à metrópole e no princípio do ano imediato foi promovido a Tenente e colocado no Grupo de Esquadrilhas de Aviação República, unidade recém criada, onde passou a exercer as funções de director da Secção fotográfica, especialidade de que era amador entusiasta e se tornaria exímio, como o demonstram as magníficas aerofotos que tirou ao longo de vários anos e que se encontram hoje em arquivo, constituindo um valioso património da modalidade.

O AVIADOR

Mas o Tenente Pinheiro Corrêa tinha o virus do Ar - por isso se oferece para tirar o curso de observador aéreo - melhor dizendo, legalizar, visto ter desempenhado essa especialidade em Moçambique - cujo «brevet» obtém em 15 de Setembro de 1920.

É promovido a Capitão, com a data de 25 de Agosto de 1922 e presta depois serviço no Parque de Material Aeronáutico, que abandona para se apresentar a 3 de Novembro na Escola Militar de Aeronáutica, a fim de tirar o Curso de piloto aviador, cujo diploma lhe é conferido com a data de 5 de Fevereiro de 1925.

Pouco depois inicia a sua interessante carreira aérea, realizando a primeira ligação da metrópole com as províncias do ultramar, no caso vertente com a Guiné.

Assim, o Capitão Pinheiro Corrêa, nas funções de navegador e chefe de equipa, acompanhado pelo Tenente Sérgio da Silva, piloto, e sargento Manuel António, mecânico, efectuou de 27 de Março a 2 de Abril , do referido ano de 1925, a viagem Lisboa-Bolama, com escalas em Casablanca-Agadir-Cabo Juby-Vila Cisneros-São Luís e Dakar.

O avião utilizado foi um Bréguet XIV A 2, com motor Renault de 300 CV, que realizou um percurso de 3960 quilómetros, em 31 h e 31 m, à velocidade horária média de 129 quilómetros.

Pinheiro Corrêa foi assim um precursor entre nós das ligações aéreas com a África, e tal facto faria que fosse agraciado, como os seus acompanhantes com a Torre e Espada.

Curiosamente, o avião, denominado Santa Filomena, e a sua tripulação teriam após chegada a Bolama uma acção preponderante na participação aérea e numa acção primitiva contra os nativos rebeldes da Ilha de Cauliabaque (Bijagós), a pedido do Governador da Província, Tenente-Coronel Velez Caroço, que depois os louvaria oficialmente por tal facto.

Em 1926 o Capitão Pinheiro Corrêa é nomeado comandante da Companhia de Aerostação em Alverca, e para em perfeita consciência executar a sua função requer para ir a França, onde no Centro de Estudos Aeronáuticos de Versailles obtém o «brevet» de balão cativo , concedido pela Comissão do Ministério da Guerra francês, e bem assim o Curso de Fotografia Aérea, que lhe foram averbados no nosso País pelo O.E. 21 de 21 de Outubro desse ano.

No ano imediato a Companhia de Aerostação é ampliada e passa a ter a designação de Batalhão de Aerosteiros, onde o Capitão Pinheiro Corrêa passa a exercer as funções de 2º Comandante, sendo o 1º Comandante o Major de Engenharia, observador aéreo, Mário da Costa França.

De 1928 a 1930, é nomeado adjunto da Direcção da Arma de Aeronáutica, que tinha a sua sede junto à Sé de Lisboa.

Em Abril desse ano de 1930 é promovido a Major, sendo colocado no Grupo Independente de Aviação de Bombardeamento, uma unidade criada na altura, em Alverca, como 2º Comandante, e que no ano seguinte passou a comandar.

Exerceu esse cargo durante três anos com bastante relevo, começando a evidenciar as grandes qualidades de organizador que possuía.

Dois factos notáveis se passaram durante o exercício das suas funções nessa unidade que tinha o lema «Ad unum», por ele instituído:

O primeiro, a 21 de Julho de 1933, consistiu num curioso festival aéreo, para entrega da bandeira ao G.I.A.B., cerimónia a que presidiu o Chefe do Estado, General Óscar Carmona e em que estiveram presentes o Ministro da Guerra, Major Luís Alberto de Oliveira, o Governador Militar de Lisboa, General Daniele de Sousa, o Director da Arma de Aeronáutica, Brigadeiro Silveira e Castro e outras altas individualidades.

Prestou guarda e honra, nessa luzida cerimónia, uma companhia de landins, que se apresentavam com um fez grená, farda e calça de caqui e de grevas, mas descalços.

Esta companhia que viera à metrópole por essa ocasião, apresentou-se ao público com grande aprumo e era impecável no manejo de armas.

Houve grande afluência de público a Alverca, nesse dia, pois o festival entre outros números de menor efeito, tinha uma prova de aterragens de precisão e outra, a mais sensacional, de acrobacia aérea, ganha pelo ás nacional, Capitão Plácido de Abreu, e em que o Tenente Metelo teve espectacular acidente, caindo junto à bancada de honra.

O outro facto de relevo, observado durante o comando do Major Pinheiro Corrêa, foi o Cruzeiro Aéreo do G.I.A.B., realizado de 4 a 21 de Maio de 1934.

Esta prova era uma réplica ao Cruzeiro Negro efectuado tempos antes por uma formação aérea francesa sob o comando do General Vuillemint, o grande organizador da aviação gaulesa nas plagas do norte de África.

Sobre essa efeméride Pinheiro Corrêa apresentou um circunstanciado relatório.

Em julho de 1934 é transferido para a Amadora, cuja unidade tinha então o nome de Grupo de Aviação de Informação Nº1, o qual comandou até à sua extinção em 1938.

Entretanto realizou-se o chamado Cruzeiro Aéreo às Colónias, de 14 de Dezembro de 1935 a 8 de Abril de 1936, em que o Major Pinheiro Corrêa tomou parte, comandando uma patrulha.

Em 1938, Pinheiro Corrêa, já com a patente de Tenente-Coronel, chefiou a missão portuguesa que, dentro do plano de rearmamento do Exército, foi à Alemanha receber os aviões bimotores «Ju-86», destinados ao grupo de bombardeamento de dia da Base da Ota, para cujo comando ele fora nomeado por seus méritos.

Na organização da moderna e airosa Unidade teve Pinheiro Corrêa um papel preponderante, e bem assim na decoração dos edifícios do aquartelamento.
Tal facto foi reconhecido pelo principal obreiro daquela Base, o então Capitão Santos Costa, Subsecretário de Estado da Guerra, que no final da cerimónia da inauguração da mesma, a 14 de Abril de 1940, declarou num jantar de confraternização a que presidiu:

«Tive no comando Pinheiro Corrêa o melhor colaborador que podia aspirar para realizar a obra a que meti ombros. De facto as qualidades de organizador estão bem patentes. Só não vê quem não quiser.»

Pinheiro Corrêa esteve na vigência do comando da Unidade até 1943, ano em que foi promovido a Coronel e colocado no Comando Geral da Aeronáutica Militar (na Av. António Augusto de Aguiar, 5) como Chefe da Repartição Técnica.

Aí se conservou durante um ano até ser nomeado, em Março de 1943, Comadante da Aeronáutica no Comando Militar dos Açores, S.Miguel, cargo onde permaneceu até 1946.

De regresso à Metrópole, depois de completar com brilho a sua comissão de serviço, foi colocado como Chefe da 2ª Repartição (Material) do C.G.A.M. (Comando Geral da Aeronáutica Militar), até 1948, data em que, nos termos legais passou à reserva.

Nessa situação, passou pouco depois a prestar serviço nos Transportes Aéreos Portugueses, (pertencentes ao Estado), como Delegado em Paris, lugar que ocupou com invulgar clarividência, até Maio de 1953, continuando no entanto em Lisboa integrado nos TAP até 30 de Abril de 1954.

O último averbamento que consta da sua folha de serviços, já na situação de reforma, é o da sua nomeação para vogal do Conselho da Ordem Militar da Torre e Espada, Valor e Mérito, por alvará de 31 de Dezembro de 1968, transcrita na Ordem de Aeronáutica nº3 de 30 de Janeiro de 1969.

Ao longo de toda a sua carreira de militar e aviador, teve numerosos prémios, condecorações e louvores, dos quais se enunciarão apenas os de maior prestígio, nacionais ou estrangeiras, como de resto tem sido feito em relação a outros pioneiros falecidos.

Citam-se assim a Ordem de Torre e Espada (Oficial), a Legião de Honra (de que era cavaleiro e oficial), a Cruz Vermelha da Alemanha e a Ordem Real do Salvador da Grécia (cavaleiro) e a última que lhe foi atribuída a da Ordem do Império (comendador), que lhe foi imposta pelo Presidente da República, Almirante Américo Tomás, em Alverca, na Comemoração do Cinquentenário da Aviação Militar em 14 de Maio de 1964.

Para além da sua vida profissional, Pinheiro Corrêa revelou-se como activo dirigente desportivo da modalidade aeronáutica e um perfeito organizador de competições, exposições e de motivos afins.

Assim, fazendo parte da Direcção do Aero Clube de Portugal, presidida por Jorge Castilho, uma figura histórica da Aviação Nacional, teve varios empreendimentos que resumidamente, se relatam:

Em 1934, a 4 de Novembro, com o seu espírito empreendedor, realiza no Aeródromo da Amadora um certame de alta acrobacia e para-quedismo em homenagem póstuma a Plácido Abreu, morto no desenrolar do Campeonato Mundial de Acrobacia em Vincennes (Paris), no dia 10 de Junho de 1934.

A essa prova concorreram vários ases nacionais e estrangeiros, como Costa Macedo, Filipe Vieira (Aviação Militar), José Cabral (Aviação Naval), Luís Rau (Aviação Civil), Michel Detroyat (que foi campeão do mundo), Helene Bouvher, Henri Baurnat, Edith Clark, Morak, Cavalli e Romaneschi, e a célebre patrulha de Etampes.

Uma semana depois, a 11 de Novembro, o programa repete-se com o mesmo êxito, e os mesmos elementos intervenientes, no I Certame Internacional do Porto, num improvisado campo na Senhora da Hora.

No ano imediato o Aero Clube de Portugal abalança-se a uma organização de maior vulto e verdadeiramente memorável.

Assim, de 1 a 15 de Junho de 1935, efectua-se no Palácio das Exposições, hoje Pavilhão dos Desportos – a 1a Exposição Internacional Aeronáutica, um facto ímpar no nosso âmbito, que redundou num êxito de grande projecção além fronteiras.A Pinheiro Corrêa coube, indiscutivelmente, os louros desse empreendimento de vulto, em que além da parte nacional, teve a colaboração de Franca, Itália, e Alemanha.

Ainda dentro desse programa grandioso do Aero Clube de Portugal e integrado nas Festas da cidade de Lisboa, foi organizado o I Rallye Internacional de Lisboa, de 6 a 9 de Junho, com chegada ao Campo da Amadora e com a comparticipação de vários concorrentes estrangeiros como Roger Gerard, Luisa Hoffman, Marise Hiltz, Edward Brett e outros.

A taça e o prémio de 5 mil escudos foram conquistados pelo francês Edward Brett, em avião Puss-Moth, num percurso de 4560 quilómetros.

Para fechar com chave de ouro, realizou-se o II Certame Internacional de Lisboa, onde houve demonstrações de para-quedismo, exibição do auto-giro La-Cierva, e acrobacia com e sem motor, em que as grandes figuras foram o francês Detroyat e o nosso companheiro Costa Macedo.

No capítulo de festivais, Pinheiro Corrêa organizou um outro de carácter nacional, em Monte Real, no dia 8 de Setembro de 1940 onde o Aero Clube de Leiria exercita a sua actividade, que teve muito mérito e em que finalizou o Circuito Aéreo de Leiria de que viria a ser vencedor o piloto civil Jorge Peixoto, hoje nos TAP.

Este festival patrocinado pelo Diário de Noticias, foi pois outra iniciativa, a registar, de Pinheiro Corrêa, em que a Aviação Militar colaborou com patrulhas acrobáticas da Ota e Tancos e exibições individuais dos Alferes Benjamim da Fonseca (da Ota) e Rodrigues Costa (de Tancos) ambos notáveis em acrobacia aérea.

Pinheiro Corrêa voltaria mais tarde a evidenciar-se como dirigente, quando assumiu a presidência da Direcção do Aero Clube, no período de 1954 a 1962.

Sobretudo o ano de 1959, comemorativo do 50º aniversário do Aero Clube, consagrou-o definitivamente como excepcional organizador.

O vasto programa dessas comemorações compreendia:

No capítulo desportivo:

1-         Campeonato Nacional de Aeromodelismo

2-         V Campeonato Ibérico de Aeromodelismo, que pela primeira vez foi ganho por Portugal

3-         1º Campeonato Nacional de Acrobacia de que saiu vencedor o concorrente Jorge Peixoto

4-         10º Rallye Aéreo Internacional <<Portugal- Vinho do Porto >>, realizado no aeródromo de Pedras Rubras e ganho pelo casal francês Haranq.

No sector cultural, foram colocadas várias lápides comemorativas de feitos aeronáuticos, a saber:

-           em frente da Torre de Belém assinalando a 1ª Travessia Aérea do Atlântico Sul de 1922, por Coutinho e Cabral.

-           Em Alverca, registando a 1ª Travessia Aérea Nocturna do Atlântico Sul em 1927 por Beires, Castilho e Gouveia.

-           Na Amadora, comemorando as várias viagens que ali tiveram início, desde 1924 a 1936.

-           Em Sintra, lembrando as viagens a Guiné e a Índia, levadas a cabo por Costa Macedo, Vicente Santo, e Carlos Bleck.

Porém a realização mais importante – com o patrocínio da Câmara Municipal – foi a manifestação cultural <<Lisboa e o Tejo na Aeronáutica Nacional – Exposição biblio-iconográfica e de propaganda de aeronáutica portuguesa>>, que foi visitado por milhares de pessoas.

Pinheiro Corrêa mandou ainda cunhar uma medalha comemorativa do 50º aniversário do Aero Clube de Portugal e cumulativamente do 250º aniversário das experiências aerostáticas de Bartolomeu de Gusmão.

Conseguiu ainda que fossem emitidos 4 selos comemorativos pelos C.T.T. e que fosse dado pela C.M.L. o nome de Almirante Gago Coutinho à antiga Avenida do Aeroporto.

No capítulo de exposições há ainda a salientar uma fotográfica sobre a evolução e actividades da Forca Aérea, que realizou num dos salões do SNI, por encargo do Secretário de Estado da Aeronáutica em Maio de 1964, nas festas do cinquentenário da Aeronáutica Militar.

O ESCRITOR E APÓSTOLO DA AVIAÇÃO

Em 1921 começa a colaborar na <<Revista Aeronáutica>> órgão do Aero Clube de Portugal, um novo valor do jornalismo da especialidade, o Tenente Pinheiro Corrêa, que se imporia pelo seu interesse estudioso, que redundaria em competência indiscutível numa obra infatigável e brilhante, num apostolado que durou 50 anos, até que próximo da morte, a vista, que faltava, o impediu de escrever.

Quando Pinheiro Corrêa se iníciou, e deu sangue à <<Revista Aeronáutica>>, publicou nela, sucessivamente, os relatórios da viagem Lisboa-Madeira em avião, por Sarmento Beires e Brito Pais a que se seguiu outra com o mesmo itinerário por Gago Coutinho, Cabral e Ortins Bettencourt e finalmente o da viagem aérea do Tejo ao Guanabara.

Isto proporcionou a saída dum número especial, que sem favor se pode considerar como uma das melhores realizações nesse capítulo, em todos os mensários da especialidade.

Com esse número morreria em beleza a <<Revista Aeronáutica>>, em 1922.

Pinheiro Corrêa, porém, já se interessara pela modalidade e por isso anos depois, em Outubro de 1928, aparece, já consagrado como escritor militar, e como director da revista mensal denominada <<Do Ar>>, que todavia apenas durou um ano, pois os tempos não eram propícios.

Criada a <<Revista do Ar>> em Outubro de 1937 – publicação que conseguiu vingar até aos nossos dias, fundada por Barão da cunha, João de Freitas e Edgar Cardoso, Pinheiro Corrêa teve nela uma longa colaboração.

Em 1947, associando-se ao jornalista Mário Rosa, cria o semanário <<do ar>>, que infelizmente teve a vida efémera de alguns meses.

No ano imediato foi para Paris, como representante da TAP, mas com o seu irrequietismo, não pôde reprimir o desejo de tornar conhecida a aviação Portuguesa e os seus feitos e deste modo organiza em 1949 no XVIII Salon Aeronautique de Paris, um Stand do Aero Clube de Portugal e Revista do Ar, sobre as nossas viagens aéreas, que teve a presença de Gago Coutinho no acto da Inauguração.

Publicou então um pequeno, mas muito elucidativo opúsculo sobre as ditas viagens aéreas, escrito em português e francês, que constituiu uma notável obra de propaganda, pois foi profusamente distribuído pelos visitantes.

Quando em 1954 foi designado Director do Aero Clube de Portugal, viria a assumir em Outubro do ano imediato e até Junho de 1962, as funções de Director da <<Revista do Ar>>, onde realizou uma obra fecunda e talentosa, no domínio da divulgação da história da aeronáutica nacional, em que era de grande competência.

A sua obra mais valiosa, ao servico da Revista do Ar, e constituida pelo número especial, publicado em separata em 1959, por consequência do 50º aniversário do Clube.

Pinheiro Corrêa que já havia publicado em 1935, um livro chamado <<Política Aérea>>, depois de abandonar as lides jornalísticas, dedicou-se a escrever a vida e obra de dois vultos eminentes da nossa aviação.

O primeiro livro editado foi <<Sacadura Cabral – Homem e Aviador>> (1964); e o seguinte: << Gago Coutinho- Precursor da Navegação Aérea>> que rapidamente se esgotaram, tal o interesse que despertaram essas publicações que constituem valores perenes da História da Aviação Portuguesa.

Pinheiro Corrêa, além disso, publicou os catálogos das Exposições que realizou, nomeadamente a da 1ª Exposição Internacional de Aeronáutica (1935), Catálogo da Exposição <<Lisboa e Tejo na Aeronáutica Nacional (1959) e o da Exposição Documental da I Travessia Aérea do Atlântico Sul (Porto – 1962).

Uma das suas últimas obras foi um trabalho sobre <<Bartolomeu de Gusmão>> apresentado num Concurso efectuado no Brasil em 1969, em que a Pinheiro Corrêa foi atribuído com o 2º Prémio.

Também em 1960 realizaria o seu último trabalho para o <<Mais Alto>>, num número especial dedicado ao centenário de <<Gago Coutinho – marinheiro- aviador- geógrafo – investigador.

Nesse mesmo ano Pinheiro Corrêa proferiria uma conferência, também sobre Gago Coutinho, em Sessão Solene realizada na Sociedade de Geografia, sobre a presença do Ministro da Marinha, do Secretário de Estado da Aeronáutica, do Embaixador do Brasil e outras altas individualidades.

Foi a última vez que falou em público mas o orador, ao versar o tema <<o Sextante Português – Portugal pioneiro de navegação aérea>>, fê-lo com o costumado brilho e saber.

INICIATIVAS E DESILUSÕES

Pinheiro Corrêa foi duas vezes ao Brasil. Da primeira vez em Dezembro de 1960, fazendo parte da caravana portuguesa que inaugurou o <<Voo da Amizade>>, Lisboa – Rio de Janeiro, realizado por feliz acordo da PANAIR e da TAP.

Pinheiro Corrêa aproveitou a oportunidade para entregar no Palácio das Laranjeiras ao Presidente da Republica do Brasil, Juscelino Kubitschek, a medalha Comemorativa do 50º aniversário do Aero Clube de Portugal, comemorado no ano anterior.

A segunda vez como convidado de honra acompanhou em Junho de 1969 a Missão Portuguesa, - chefiada pelo General Mário Polleri,- que foi ao Brasil para encerramento das comemorações do centenário do nascimento de Gago Coutinho, naquele País, que culminaram com a inauguração dum marco evocativo com placa de bronze, no Rio de Janeiro.

No Brasil, Pinheiro Corrêa adoeceu gravemente e não pôde assistir à inauguração do <<Museu do Ar>>, causa que vinha advogando desde 1938, e que em 1963 julgou ver realizada com a cedência para tal de uma Sala do Palácio dos Pimentas, pelo Presidente da Câmara de Lisboa, General Franca Borges.

E assim o escreveu numa carta dirigida ao Director do <<Diário de Lisboa>>: <<O Museu do Ar será em breve uma realidade! Todavia, para evitar futuras críticas, esclareça-se que não terá um edifício próprio onde se alojem autênticos aviões>>.

Este último caso seria ponderado pela Secretaria de Estado da Aeronáutica, que tomou a peito resolver o assunto, com os seus próprios meios e graças à acção do Brigadeiro Fernando de Oliveira em 1968, foi aberto ao público em 1 de Julho de 1969, no dia festivo da Forca Aérea.

Pinheiro Corrêa, um tempo antes da sua partida para o Brasil, ofereceu várias recordações de grande valor, e auxiliou esporadicamente o arrumo final dos itens a apresentar.

Mas a Fatalidade, não lhe permitiu assistir à concretização do seu sonho, e quando do seu regresso, muito combalido, não pôde assumir o lugar a que tinha direito jus: o de Director do Museu do Ar!

E isso constituiria, para a sua alma de combatente, uma desilusão! Desta vez a vontade férrea não triunfou sobre a doença.

Outra desilusão teria, embora de outra ordem, ligado a uma sua outra iniciativa, melhor dizendo, uma sugestão feita em 1924, e pela qual ardorosamente se vinha batendo:

Erigir-se em Lisboa um monumento Comemorativo da 1ª Travessia do Atlântico Sul.

Em artigo publicado nos jornais, Pinheiro Corrêa opinava a sua colocação na Rotunda do relógio, junto ao Aeroporto.

Afinal o monumento fez-se e foi inaugurado em 1972 próximo da Torre de Belém, graças à tenacidade do Presidente da Câmara de Lisboa, Engenheiro Santos e Castro, mas sem a grandeza que Pinheiro Corrêa e todos nos, homens do Ar, desejaríamos!

Para além da sua concepção artística, do género modernista, figurativa, que não esta em causa, falta ao monumento o sentido de universalidade, e o verdadeiro espírito da raça agradecida, a perpetuar como hino vibrante e eterno, a proeza de Coutinho e Cabral.

Pinheiro Corrêa morreu; com ele um paladino incansável, que ao chegar ao termo da vida podia com orgulho dizer: Missão Cumprida!]

Referência: “História da Força Aérea Portuguesa”,  Cor. Piloto-Aviador Edgar Cardoso, Cromocolor Lda., pg. 230-237, 1984.

(Cópia deste texto amavelmente oferecida à minha avó Magdalena Pinheiro Corrêa Toste Rêgo,  pelo Eng. Carlos Gomes de Araújo)


PRÉMIOS, CONDECORAÇÕES E LOUVORES

  • Oficial da Torre Espada em 21 de Novembro de 1925.
  • Cavaleiro da Ordem de Santiago da Espada em 30 de Janeiro 1928.
  • Comendador da Ordem de Cristo em 4 de Novembro 1931 (Grande Oficial).
  • Comendador da Ordem de Góis a 2 de Novembro de 1944.
  • Cavaleiro, Oficial e Comendador da Legião de Honra (22/8/1926, 27/11/1932, 4/11/1954).
  • Comendador da Ordem do Império em 11 de Junho de 1964, imposta pelo Presidente da República, Almirante Américo Tomás, em Alverca, na Comemoração do Cinquentenário da Aviação Militar em 14 de Maio de 1964. (ordem extinta em 1986)
  • Comendador da Ordem do Infante Dom Henrique em 22 de Abril 1966 (pelo ministro da marinha Mendonça Dias).

  • Cruz Vermelha da Alemanha
  • Cavaleiro da Ordem Real do Salvador da Grécia



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